Cerca de uma entre cinco mulheres tem ovário policísticos. Esse termo descreve a aparência dos ovários quando eles são vistos em uma tela de ultra-som. A síndrome do ovário policístico (SOPC) é o nome dado a uma condição na qual as mulheres com ovários policísticos apresentam um ou mais sintomas adicionais. Assim, nem todas as mulheres com ovários policisticos apresentam a síndrome do ovário policístico, mas todas as mulheres com SOPC tem ovários policísticos.
O diagnóstico de SOPC tem sido feito mais facilmente nos anos mais recentes, devido à disponibilidade do exame de ultra-som. Antes dele, apenas as mulheres com os sintomas mais graves podiam ser diagnosticadas com segurança; atualmente a condição pode ser detectada mesmo quando os problemas são apenas leves.
Ovários normais
As mulheres têm dois ovários; eles estão localizados na pélvis, ao lado do útero.
Sua principal funcão é liberar óvulos e produzir hormônios. No nascimento os ovários são providos com milhares de óvulos, cada um deles rodeado por células que se desenvolvem em uma pequena vesícula cheia de líquido, chamada folículo.
Todos os meses, nas mulheres com ciclos menstruais normais e que estão ovulando normalmente, um destes folículos cresce até cerca de 20 mm de diametro e então libera um óvulo (ovulação) que passa para a trompa de Falópio. Aqui ocorre a fertilização, antes que o óvulo fertilizado (embrião) continue até o útero para se implantar no seu revestimento (endométrio) e desenvolver uma gravidez. Se nenhum óvulo for fertilizado, o endométrio é eliminado como menstruação, cerca de 14 dias depois da ovulação.
Três importantes grupos de hormônios - estrogênios, androgênios e progesterona - também são produzidos no ovário. Eles, por sua vez, são regulados pela liberação de dois outros hormônios da glândula hipófise, situada na base do cérebro - o hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). Esses dois hormônios "reprodutivos" influem no desenvolvimento do folículo e na regulação do momento da ovulação.
Ovários policísticos
Os ovários policísticos contém muitos pequenos cistos - no mínimo dez. Alguns desses cistos contém óvulos, alguns são inativos, e outros podem secretar hormônios. Os cistos são pequenos, em geral com não mais que 8 milímetros, mas bastante claros ao ultra-som para permitir um diagnóstico acurado. Dosagens sanguíneas também podem revelar alterações dos níveis hormonais características dos ovários policísticos, mas esses níveis variam consideravelmente de uma mulher para outra.
Os médicos ainda não estão inteiramente seguros de porque algumas mulheres têm ovários policísticos. Pode existir uma ligação hereditária, e eles estão presentes em mulheres de todas as idades, muitas das quais não apresentam sintomas de SOPC. Em outras palavras, os ovários não se tornam repentinamente policísticos; mas as mulheres que sempre tiveram ovários policísticos podem desenvolver sintomas a qualquer momento.
Acredita-se que a causa dos ovários policísticos envolva uma incapacidade dos ovários de produzir hormônios nas proporções corretas. A glândula pituitária sente que o ovário não está trabalhando adequadamente e, por sua vez, libera quantidades anormais de LH e FSH - o que pode significar que níveis incomumente elevados de LH estão circulando na corrente sanguínea.
Os sintomas da SOPC
1. Irregularidades menstruais
O desequilíbrio na produção de hormônios, tanto dos ovários como da pituitária, pode resultar em uma ovulação irregular ou em ausência absoluta de ovulação (conhecida como "anovulação"). Os períodos menstruais podem, portanto, se tornar irregulares - talvez mais abundantes que o usual, talvez ocorrendo após longas interrupções (oligomenorréia), ou talvez não ocorrendo (amenorréia). Algumas mulheres referem dor na pélvis, a qual pode estar relacionada ao efeito dos hormônios sobre o fluxo sanguíneo nas veias pélvicas.
2. Fertilidade
A ovulação irregular geralmente significa que é mais dificil conseguir a gravidez; similarmente, se não está ocorrendo a ovulação, não é possível a concepção sem tratamento. Por isso, as mulheres com ciclos irregulares que desejam engravidar terão maiores probabilidades quando seus ciclos mensais voltarem ao normal.
3. Aborto
Ao passo que o aborto parece ser um acontecimento indesejavel para a maioria dos casais, sabe-se agora que as mulheres com a SOPC, que apresentam níveis circulantes elevados de LH, podem estar sob um risco maior desta situação. A explicação provável é que um nível muito elevado de LH na corrente sanguínea torna mais difícil para o óvulo o desenvolvimento dentro do folículo, e para um embrião a implantação no útero.
4. Problemas cutâneos
Um dos hormônios que podem ser liberados em quantidades incomumente elevadas pelos ovários é a testosterona, o hormônio sexual "masculino" que circula tanto nos homens como nas mulheres. Níveis excessivos de testosterona nas mulheres podem ser a causa de acne na face e nas costas, ou de indesejados pelos na face, tórax, braços e pernas. Os níveis de testosterona nas mulheres com SOPC ainda são muito mais baixos que os encontrados nos homens.
Os problemas cotidianos da SOPC freqüentemente só são sensíveis ao tratamento médico, mas existem também algumas alteracões no modo de vida que podem melhorar os sintomas. Por exemplo, os médicos sabem que o equilíbrio hormonal do corpo pode ser perturbado pelo excesso de peso corpóreo, e certamente a SOPC é mais comum em mulheres obesas do que nas que apresentam uma relacão peso-altura correta. Da mesma maneira, algumas mulheres com ovários policísticos somente apresentam sintomas quando aumentam de peso. Portanto, uma relação peso-altura correta ajudará, podendo ser medida por uma equação chamada "índice de massa corpórea" (IMC). Seu IMC é seu peso em quilogramas dividido por sua altura em metros elevada ao quadrado - ou, como seu médico escreveria, kg/m2. Um IMC normal está entre 20 e 25.
Um perigo para a saude?
Os peqnenos cistos detectados em ovários policísticos não ficam maiores; na realidade, em geral eles desaparecem, apenas para serem substituidos por outros cistos similares. Eles continuam pequenos (não mais que 8 milimetros) e não necessitam de remoção cirúrgica. Algumas vezes os cistos maiores (com mais de 20 milímetros) podem liberar um óvulo. Somente os cistos muito grandes (com mais de 50 milímetros) requerem cirurgia, e eles podem ocorrer em qualquer mulher, tenha ela ovários policísticos ou não. Não existe ligação entre os cistos de ovários policísticos e câncer do ovário. Entretanto, embora o risco seja muito raro, as mulheres com poucos períodos menstruais ou ausência dos mesmos apresentam maior risco de câncer do endométrio. Isso pode acontecer quando o revestimento do útero (endométrio) se torna muito espesso; sua eliminação regular como periodo menstrual evita isso. Se o endométrio aparece espesso ou irregular ao exame de ultra-som, pode ser necessário uma curetagem uterina.
As mulheres obesas com ovários policísticos também apresentam maior risco de doença cardíaca - simplesmente porque o excesso de peso está ligado a pressão arterial elevada e níveis excessivos de colesterol na corrente sanguínea, ambos conhecidos fatores de risco de doença cardíaca. Uma dieta com muitas fibras, pouca gordura e pouco açúcar na juventude ajudam a reduzir esses riscos mais tarde na vida - assim como parar de fumar. O diabetes na idade adulta, na qual o corpo se torna incapaz de utilizar eficientemente o acúcar, também está associado ao excesso de peso. Pode ser necessário medicação, mas a perda de peso e uma menor ingestão de carboidratos também ajudarão.
Com certeza, o fato de ter excesso de peso é provavelmente a causa dos maiores e mais freqüentes problemas das mulheres com SOPC.
Controle da SOPC
Não é necessário dizer que todas as mulheres com ovários policísticos deveriam tentar manter o peso normal e as menstruações regulares. O tratamento médico é geralmente restrito àquelas com os desagradáveis sintomas da SOPC.
1. Irregularidades menstruais
Ciclos irregulares são uma amolação - assim como um indício de algum distúrbio hormonal ou risco de espessamento endometrial. Para as mulheres que não desejam engravidar, a pílula anticoncepcional oferece a solução mais fácil. Ela provoca um ciclo regular (embora artificial) e sangramento regular durante a semana sem a pílula. Atualmente a maioria dos ginecologistas recomenda uma variedade com dose baixa para as mulheres com ovários policísticos. As mulheres que não podem tomar a pílula podem obter melhora com um tratamento apenas com progesterona, usualmente tomada dutante 12 dias cada um a três meses. Isso provocará o sangramento, sem nenhum dos efeitos colaterais associados ao estrógeno da pílula.
Qualquer sangramento irregular enquanto você estiver tomando a pílula deve ser controlado pelo médico. Uma curetagem ou um exame de ultra-som podem ser recomendáveis; assim como, um exame de esfregaço cervical deve ser feito anualmente.
2. Dificuldade em engravidar
Embora a incapacidade de ovular seja o motivo usual de infertilidade nas mulberes com ovários policísticos, deve ser também confirmado que outtos importantes fatores - como as suas trompas de Falópio ou o sêmen de seu parceiro - estão em ordem.
* Monitoração da ovulação.
Nos ciclos normais a ovulação ocorre 14 dias antes do início de um período - portanto, somente se o seu ciclo for de 28 dias é que a ovulação ocorrerá no 14º dia. Se o seu ciclo for de 27 dias, por exemplo, a ovulação será no 13º dia; se for de 35 dias, a ovulação será no 21º dia. É importante que esses dados estejam coretos, Se você estiver programando que a relação sexual coincida com a ovulação. A maneira mais confiável de prever a ovulação é com um kit de teste urinário. Ele mede o pico de LH que ocorre no momento da ovulação. Os testes devem começar cerca de um dia antes daquele em que você espera ovular, enquanto que a relação deve ocorrer no dia em que o teste mostrar mudança de cor e no dia seguinte. Os gráficos de temperatura podem indicar alterações hormonais no ciclo, mas não são previsores exatos.
A ovulação pode ser monitorada por ultra-som, mas este evidentemente exige comparecimentos ao hospital e por esse motivo é reservado às mulheres com tratamentos mais complicados ou que estão tendo dificuldades com os testes de urina.
Um exame de sangue feito sete dias após a data presumida da ovulação permite ao médico medir o nível do hormônio progesterona para conferir se a ovulação realmente ocorreu.
Evidentemente, a maior parte dessa monitoração - seja ela simples on mais complicada - é realizada a fim de que a relação sexual possa ser programada para coincidir com a ovulação. Se você tem ciclos regulares e está ovulando normalmente, relações duas ou três vezes por semana fornecerão um suprimento de espermatozóides suficiente para a fertilização do óvulo quando ele for liberado. Períodos longos de abstinência parecem piorar a função do espermatozóide.
Muitas pacientes dizem que a monitoração intensiva pode retirar muito da espontaneidade de suas vidas sexuais. Uma pequena interrupção do tratamento - talvez um mês ou dois - pode aliviar a tensão e permitir que se faça amor de modo mais descontraido.
* Medicamentos para induzir a ovulação.
Podem ser usados medicamentos nos casos em que a ovulação é irregular ou inexistente. O mais comum é o citrato de clomifeno, que é tomado comprimido durante cinco dias, a partir do segundo dia de menstruação. Os resultados mostram que quatro em cada cinco mulheres que recebem clomifeno menstruam, mas que somente uma em três engravida. A dose inicial é geralmente 50 miligramas, podendo ser aumentada para 100 miligramas. O clomifeno pode causar espessamento do muco cervical, por isso um exame pós-coito pode mostrar ao médico se os espermatozóides estão sobrevivendo no trato genital.
Entretanto, embora o clomifeno seja um medicamento útil para muitas mulheres com problemas de infertilidade, nem sempre é adequado para aquelas com SOPC, porque pode causar uma elevação exagerada dos níveis sanguíneos de LH, o que pode impedir a fertilização ou aumentar as probabilidades de aborto. Portanto, se o clomifeno não tiver sido bem sucedido em mulheres com SOPC dentro de seis meses, geralmente são exigidos outras pesquisas e tratamentos alternativos.
Foram relatados efeitos colaterais com clomifeno, especialmente gástricos e intestinais, fogachos, inchaço, cefaléia, tonturas, depressão e desconforto nas mamas. A gravidez múltipla é um risco sempre que a ovulação é induzida com drogas para a fertilidade - na concepção natural o risco é de aproximadamente uma em oitenta, enquanto que na ovulação induzida é de cerca de uma em vinte. Não existe aumento de risco de defeitos congênitos devido as drogas para a fertilidade.
* Tratamentos mais complicados.
Se os comprimidos fracassarem, os hormônios injetáveis estimulam os ovários mais diretamente. As injeções mais comuns envolvem um grupo de hormônios conhecidos como gonadotrofinas, que podem ser obtidos através da urina humana. A gonadotrofina menopáusica humana (hMG) tem as atividades tanto do FSH como do LH, enquanto que os preparados "purificados" de FSH contém apenas mínimas quantidades de LH. Recentemente, os preparados de gonadotrofina têm sido produzidos sinteticamente por meio de modernos métodos biotecnológicos. Esses novos preparados podem ser administrados por meio de injeções subcutâneas (sob a pele), em vez da injeção intramuscular profunda necessária para os preparados originais. Esses produtos agem adequadamente nas mulheres com SOPC. Entretanto, como o ovário policístico contém muitos pequenos cistos (que, na realidade, são folículos), o ovário é muito sensível à estimulação por esses hormônios. À vista disso, os períodos de tratamento começam com doses baixas, com o crescimento dos folículos sendo cuidadosamente monitorado por ultra-som. Esses exames podem ser apoiados por medições da liberação de estrogênio do ovário na corrente sanguínea. Se a monitoração mostra que estão se desenvolvendo demasiados folículos e que o risco de gravidez múltipla é grande, os médicos geralmente interrompem o tratamento e cancelam esse ciclo.
Uma segunda gonadotrofina - gonadotrofina coriônica humana (hCG) - é dada para estimular a liberação do óvulo pelo folículo. Esse preparado é dado quando o ovário contém um ou mais folículos maduros. O hCG leva entre 36 e 48 horas para agir - por isso se for dada de manhã, a ovulação deve ser esperada durante a tarde e noite do dia seguinte.
As mulheres com SOPC que recebem gonadotrofinas apresentam risco maior de uma condição rara mas perigosa conhecida como síndrome da hiperestimulação ovariana - por isso é essencial uma monitoração cuidadosa. A condição ocorre quando muitos folículos são estimulados, e resulta em distensão abdominal e náuseas.
* Diatermia ovariana laparoscópica.
Uma nova operação minimamente invasiva, que é realizada através de um laparoscópio, parece que vai tomar o lugar da "ressecção em cunha", mais traumática, na qual uma parte do ovário é removida cirurgicamente. o novo procedimento - conhecido como diatermia ovariana laparoscópica - na realidade cauteriza partes do ovário a fim de corrigir anormalidades hormonais, desse modo tornando possível a ovulação.
* Fertização in vitro (FIV).
A FIV, a técnica do "bebê de proveta", na qual os óvulos de uma mulher são fertilizados em laboratório com os espermatozóides de seu parceiro, geralmente é recomendada para mulheres que têm as trompas de Falópio obstruidas, ou para homens com número baixo de espermatozóides. A FIV às vezes é sugerida a mulheres que querem conceber, quando outros tratamentos fracassaram. A SOPC apenas, entretanto, não é indicação para FIV. As mulheres com SOPC que são submetidas a FIV têm maior risco de apresentar a síndrome da hiperestimulação ovariana e devem ser cuidadosamente monitoradas.
3. Aborto
o aborto nas mulheres com SOPC é considerado como estando associado a níveis elevados de LH. Entretanto, não foi comprovado ser preferível suprimir a liberação do LH antes de induzir a ovulação - que pode ser feita usando-se uma droga conhecida como análogo do hormônio liberador da gonadotrofina (GnRHa). Os análogos do GnRH podem ser dados na forma de injeções diárias ou de spray nasal. Quando os níveis sanguíneos de LH tiverem caido, a ovulação poderá ser induzida com hMG ou FSH. A diatermia ovariana laparoscópica também resulta em diminuição dos níveis de LH na corrente sanguínea e também pode ajudar a reduzir o risco de aborto.
4. Problemas Cutâneos
Os tratamentos usuais para acne e pelos indesejáveis são uma combinação de estrogênio (como é encontrado na pílula anticoncepcional) e um hormônio "anti-androgênico" como o acetato de ciproterona. A ciproterona é tomada durante os primeiros dez dias do ciclo, e a pílula durante os primeiros 21 dias. Esse tratamento, evidentemente, tem um efeito contraceptivo - e, portanto, é pouco útil em quem está tentando engravidar. Existem tratamentos alternativos sem efeito contraceptivo, por isso esse importante assunto deve ser discutido com seu médico.
A depilação com cera e a eletrólise podem ser úteis, principalmente enquanto se espera durante alguns meses que os tratamentos hormonais atuem. Eles devem ser realizados, entretanto, apenas por terapêutas experientes, já que um tratamento inábil pode resultar em cicatrizes. Se a SOPC for diagnosticada como causa do problema, a solução lógica será a correção da anormalidade hormonal.
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